terça-feira, 26 de abril de 2011

#1 O olho do gato capítulo1:O vento que leva a colina do oeste

Conforme o que postei ontem ai esta, uma história "nova" (que na verdade é mais velha que o caçador de bruxas em sua idéia de origem).Originalmente era um roteiro para peça de teatro (na verdade ainda é) que decidi enrriquecer, espero que gostem.Savvy?

    Era ainda muito cedo, as estrelas ainda brilhavam no céu e a lua ainda repousava em meio ao colchão de estrelas quando Teana despertou. Sentou-se na cama e espreguiçou-se, levantou e foi na ponta dos pés até o lavatório. Encontrou a maçaneta da porta tateando no escuro, abriu-a e entrou no pequeno lavatório. Ascendeu uma das velas que estava sobre a pia e olhou-se no grande espelho que estava pendurado na parede. Os longos cabelos dourados estavam desgrenhados por conta da noite de sono, os olhos verdes estavam inchados de sono e a pele branca continha as marcas do lençol. Ela jogou um pouco de água no rosto para despertar, ajeitou os cabelos como pôde, cobriu a camisola branca com uma coberta, desceu as escadas na ponta dos pés para não acordar seus pais, abriu delicadamente a porta e saiu.
    O céu estava belíssimo,a lua estava cheia o que reduzia o numero de estrelas visíveis, mas proporcionava uma bela vista da paisagem sob sua luz prateada. Teana deu a volta na casa e dirigiu-se para a colina que ficava atrás desta. Caminhou descalça pela relva já molhada pelo orvalho, mesmo no escuro não teve problemas, o caminho já era um velho conhecido. Já no alto da colina ela sorriu e sentou-se em meio a margaridas que ali cresciam, aninhou-se em seu cobertor e voltada para leste aguardou o espetáculo que em breve teria inicio.

    A aparência daquele homem destoava da paisagem, alto e esguio, cabelos negros bagunçados, terno negro surrado, cartola, sapatos de couro e uma bengala, uma figura certamente inesperada em um local como uma floresta de pinheiros, a única coisa naquele homem que não destoava do cenário selvagem eram seus olhos azuis com pupilas iguais as de um gato.Yuuri era seu nome e ele estava de péssimo humor, odiava não saber que rumo tomar e detestava ainda mais ter de perguntar isso ao mais detestável ser que ele conhecia. Caminhava em meio ao bosque de pinheiros a passos largos e pesados, bufando a cada tragada do ar. A bengala deixava sua marca a cada passo e as vezes encontrava uma pedra, produzindo um estridente ruído metálico que apenas irritava Yuuri ainda mais. Ele parou der repente, observou ao redor, respirou fundo como se estivesse farejando e falou com voz grave e em tom severo.
-Apareça logo Folks, não ouse testar minha paciência com seus joguinhos!
De trás de uma árvore surgiu uma figura excêntrica. Um homem de estatura mediana, muito magro, trajando culotes amarelos e uma estranha capa vermelha que lembrava asas, tinha cabelos loiros e olhos num tom castanho avermelhado semelhantes aos olhos de um pássaro. Ele trazia no rosto um sorriso debochado, fez uma  cínica mesura para Yuuri e falou em tom de ironia.
-Perdão vossa alteza, mas sabe como joguinhos me agradam.
Yuuri limitou-se a fulminá-lo com os olhos, Folks pareceu entender pois baixou a cabeça em sinal de respeito.
-E então, já sabes para onde devo seguir?
Folks dobrou a cabeça para o lado de maneira debochada, Yuuri demonstrou não gostar, o que pareceu fazer com que Folks se alegrasse. Ele falou em um tom extremamente dramático, gesticulando a cada palavra.
-Mas é claro que sei majestade, se não o soubesse qual seria minha utilidade? Afinal de contas, eu recebi um olho para ser aquele que o caminho aponta! Se eu não o fizesse o que seria de mim? Apenas mais um pássaro inútil a voar no céu! Não?
O excesso de dramatização comumente empregado por Folks deixava Yuuri extremamente irritado, ele mais uma vez fulminou-o com os olhos, mas desta vez não houve nenhuma reação por parte de Folks.
-Então pare com seus malditos rodeios e diga de uma vez para onde devo seguir!
Folks não se deixou amedrontar pelo tom severo empregado por Yuuri, pelo contrario, ele pareceu não se importar, sua reação foi simplesmente dobrar a cabeça para o outro lado.
-Perdão vossa magnificência, irei dizer sem mais delongas!
Yuuri suspirou e praguejou a si mesmo por ter elegido alguém tão excêntrico para ser um de seus companheiros.
    Folks endireitou-se, fechou os olhos por alguns momentos e quando tornou a abri-los eles apresentavam um brilho amarelado, ele olhou pra o céu, estendeu os braços e declamou em tom amigável.

Que cante o pássaro azul se o vento a seguir soprar do sul;
Que gorjeie o pássaro campestre se o vento a seguir vier do leste;
Que assovie o pássaro lorde se o vento a seguir vagar pelo norte;
E que pie o pássaro silvestre se o vento a seguir correr pelo oeste!”
  
    Poucos instantes após a declamação de Folks foi possível ouvir pio vindo do meio dos pinheiros, Folks fechou mais uma vez os olhos, desta vez quando os abriu eles haviam voltado ao normal. Ele olhou para Yuuri e mais uma vez abriu um sorriso cínico, voltando a falar em tom de ironia.
-Siga pelo oeste, de onde corre o vento de tempestade! No fim de seu caminho encontrará uma casa simples de família, atrás da casa há uma colina, é la que o vento deve levá-lo!
Yuuri agradeceu com um gesto e retomou seu caminhar, Folks gargalhou cinicamente falou em tom de deboche.
-O rei é sempre apressado, sequer me deixou terminar!
Yuuri encarou-o com ares de quem já perdeu a paciência e falou em tom ameaçador.
-Então termine de uma vez pássaro maldito, antes que eu lhe arranque as asas!
Desta vez a ameaça pareceu ter sustido algum efeito pois Folks deixou morrer o sorriso. Ele falou agora em um tom de seriedade.
-Preste atenção a moças de cabelos dourados...
    Os cabelos de Yuuri clarearam gradualmente até se tornarem completamente brancos e deixarem de ser os cabelos negros de Yuuri, passando a ser os cabelos brancos de Scrödinger, ele abriu um sorriso terno e olhou para Folks.
-Obrigado velho amigo... Peço desculpas se Yuuri fica irritado em sua presença...
Folks tornou a sorrir, mas desta vez não era um sorriso cínico, mas sim um sorriso sincero, até mesmo o tom empregado para falar mudou, tornando-se algo muito mais amigável embora ainda fosse dramático em excesso.
-Não se preocupe mestre Scrödinger! Yuuri esta sempre irritado e você sempre sorrindo! Afinal, se assim não fosse não haveria por que Yuuri e Scrödinger terem deixado de ser Yuuri Scrödinger.

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